"Há muito tempo atrás
Henrique Preto ensinou
que o chocalho canta o samba
que a zabumba começou"
Henrique Preto ensinou
que o chocalho canta o samba
que a zabumba começou"
Foi sem samba, sem alegria, em uma dolorida e silenciosa volta que a zabumba e o chocalho fizeram sua tradicional caminhada pelo Centro Histórico de Parnaíba.

A saída foi ali, de onde sempre saíram, sob os olhares do então casarão, o Museu do Anhanguera foi testemunha da partida da dupla.

Seguiram pela rua de baixo em seu compasso silencioso lembrando aos olhos dos curiosos e incrédulos que era sim, uma terça-feira de carnaval.
E assim foi com seu "andar de samba" que chegaram na Padaria Aurora, parados entoaram:
"Carrera de paca
carrera de lebre
traz a pinga
que nóis bebe"
carrera de lebre
traz a pinga
que nóis bebe"

As portas fechadas da Aurora pareciam querer abrir como em um passe de mágica ou de fé, mas mantiveram-se fechadas, caladas. Assim a zabumba e o chocalho continuaram o seu solitário corso.

Na esquina do Vasquinho, decidiu-se seguir para o jardim, mas por um momento, ainda no local agradeceram a oferta do Joca:
"O tatu saiu da toca
pra beber
pinga do Joca"
Ficou a lembrança do sabor do líquido que desce pela garganta dos sambadores trazendo alívio e reanimando o toque.

A caminho do jardim, não existia multidão, apenas o silêncio e uma breve saudação ao Garnisé.
A dupla então parou em frente ao Detó cantaram e assim como ocorrido na Aurora sabiam da vontade que a porta estava de se levantar, mas nada.

Já cansados e com a zabumba percebendo um leve entristecer do seu companheiro, parou, olhou para ele e puxou:
"Eu briguei com a patroa
Tô que tô
que não me aguento
eu tô indo tomar uma
lá no 3500".
Tô que tô
que não me aguento
eu tô indo tomar uma
lá no 3500".
Sempre funciona, o chocalho agora entusiasmado seguiu o roteiro.

De volta ao ponto de partida, com a terça-feira indo embora e sem os estandartes que do armário não saíram, a zambumba e o chocalho também voltam para o seu lugar, quietos, mas com a promessa que em 2022 seu som será ouvido nos 4 cantos da cidade.
"Pereira...Pereira...Pereira".
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O texto é uma homenagem para todos os sambadores que com a sua alma carnavalesca e alimentados pela tradição mantiveram-se mudos, somente com a baqueta em punho e a rima presa na garganta em defesa da vida. Meu imenso respeito aos sambadores e sambadoras do: Grito da Noite, Galo Preto, Galo Garnisé, Pé Vermeio, Briga de Galo, Esquenta do Sambão, Abayomi, Berro do Sexo Forte, Vovô da Serra do Japi e um caloroso salve carregado no Àsé ao Samba de Bumbo 13 de Maio do Cururuquara ...salve e até 2022.
Leandro Daher, parnaíbano, sambador apaixonado pela tradição e autor do texto e fotos.
Leandro Daher, parnaíbano, sambador apaixonado pela tradição e autor do texto e fotos.